Monday, February 11, 2008

Meus amigos do coração

Esse é um dia no qual eu gostaria de falar sobre meus amigos.

Quando digo amigos, quero me referir aquelas pessoas que fizeram parte da minha vida de forma influenciadora, que participaram das minhas fases e que tiveram suas fases junto comigo. Com certeza os laços com essas pessoas não se quebrarão, as demais pessoas em que os laços se quebraram ou são frágeis, não passam de uma dessas fases.

Gostaria de lembrar do meu irmão Erick e nossa fase “meninos avassaladores”, cara, acho que se você nos conhecesse nessa época, nos mataria! Nós sempre fomos nômades, e pulando de galho em galho, sempre arranjávamos um jeito de avassalar com tudo! Uma das idéias mais loucas que tivemos, onde eu era o mentor e o Erick era o cara corajoso (ou louco demais) para cumprir as missões, foi quando morávamos numa casa que era ligada a um bar por um corredor. Esse corredor dava entrada ao bar, mas antes tínhamos que passar por um mini estoque, que tinha caixas de cerveja e refrigerantes, era bem escuro, porém, movimentado. A idéia era entrar no estoque e pegar alguma coisa no bar, sem ser visto. Tínhamos um plano, que era baseado nos filme que assistíamos, onde a agilidade era o maior trunfo. O Erick caminhava lentamente escorado nas caixas e na parede, enquanto da porta do bar sempre passavam as pessoas que estavam atendendo, entre eles o dono do bar e da casa, o famoso seu Dório, um bigodudo gente-fina. Uma certa vez eles decidiram entrar para pegar alguma coisa, eu podia ver pelo lado de fora e meu coração disparou. Olhei para o Erick e fiz um sinal que queria dizer: “ Calma, se você não se mexer eles não vão te ver”, o filho mais velho do ser Dório passou, olhou umas caixas, pegou umas garrafas e saiu. Quando estávamos nos recuperando do susto, ele repentinamente voltou, como que numa tentativa de descobrir o que havia de errado naquele lugar. O Erick andou em círculos por entre as caixas e se esquivou dos olhares do herdeiro do Dório com destreza, e assim não tivemos o azar de sermos vistos, dedados e surrados pelos nossos pais. Foram muitas aventuras por aquelas bandas.

Com certeza eu fui o mais nômade na família, dormia na casa de vários primos e amigos, aquilo me trazia uma sensação de liberdade. A casa onde eu passei mais tempo na vida sem ser a minha, com certeza, é a casa do meu primo-irmão Diego, o antigo “Abima”. Esse cara praticamente viveu comigo, sempre soubemos coisas um do outro, éramos comparsas e cúmplices. As lembranças são infinitas, desde a época que alugar filmes e assistir naquele vídeo-cassete lendário (um Sharp). Filmes como “Ace Ventura o detetive de animais”, “highlander o guerreiro imortal” e “Toy Story” faziam parte das melhores coisas que eu já tinha vivido até então, e esse cara, que na época era um cabeçudo (mas eu nunca tinha percebido isso) sempre estava lá. Foi lá que começou a lenda das “madrugadas”, um “ritual” obrigatório quando todos estavam juntos. Eu cheguei a presenciar um gorila gigante com ele, bem na nossa frente, mas do outro lado da rua, fabricado por nossas imaginações férteis e pelo sono entorpecente. Vivi com esse cara desde que tinha meus 3 e 4 anos, quando ficava na casa dele enquanto minha mãe trabalhava. Ele uma vez “riu” de mim por que tinha ganhado uma espada do He-mann do pai dele, mas quando menos esperou o lendário Jorjão me deu uma arma de espoleta, aí foi treta (...)

Tudo ficaria ainda mais divertido anos à frente, quando teríamos nosso primeiro contato com uma câmera de vídeo, mas ainda vamos chegar lá.

Não importava o quanto ficássemos longe uns dos outros, quando nos víamos, virava mágica. Lembro de viajar para Bahia com um primo hoje muito distante, o Bruno, e quando cheguei lá, encontrei os arruaceiros Gilliard e Kaio, e logo me confraternizei com os nativos filhos de Jonas, mais uma daquelas lendas que você só acredita quando vê de perto. Foi lá que encontramos no meio do nada, em uma de nossas viagens sem rumo, uma misteriosa velha, que se chamava Dona Ana. Ela sempre contava umas historias fantasmagóricas pra gente. Mas isso não nos impedia de entrar mata adentro em busca de alguma diversão ou de algumas historias pra contar. A mortalha, uma roupa preparada pra defuntos foi arrepiante, pois estávamos no meio do mato, com a presença de ninguém alem de nós, e ouvíamos sons estranhos. Um amigo, que era nativo, chamado Ubiratã, dizia ser uma mortalha, que ele definia como uma mulher morta vestida de branco. Também saíamos vestidos com roupas que nos faziam os “playboys” do lugar e ficávamos cantando em grupo, no meio das ruas que passávamos: “eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci....” – todo mundo olhava com estranheza, mas achava graça. “Caí no poço” era uma das minhas brincadeiras favoritas, só pra beijar as menininhas que eu achava mais bonitinhas por lá. Mas elas eram mais avançadas sexualmente do que eu poderia imaginar. Foi lá que eu tive minha primeira experiência com mulheres nuas. Depois não parei mais (...) Também éramos “um vício” (expressão usada por nós) nos Mamonas assassinas, cantando e dançando como loucos. Muitos anos se passaram e muitas historias ocorreram, e nós arruaçamos. Um certo dia, não me lembro como, fiquei sabendo que iría pra uma festa do Jorjão, e isso sempre significou muita bagunça, alegria e traquinagens. Cheguei lá, já acompanhado do Diego, Erick, Giba e família. Estava tudo lindo, até que – Droga, aquilo é uma câmera de filmagem? Está nas mãos do Jorge? Não acredito, isso é demais! Será que ele deixa eu filmar? – estava bem na minha frente uma chance única de mostrar do que minha mente era capaz. Logo depois de receber a autorização para gravar a festa, comecei a filmar meus comparsas na piscina. Não demorou nenhum pouco para que já estivéssemos imaginando o que fazer de melhor, além de ficar zanzando pra lá e pra cá, filmando um monte de bêbados sem noção. Como assistia muita MTV naquela época, queria fazer algo tão original como os programas de lá, e logo “copiamos” nossos ícones da malandragem “Hermes e Renato”, logo sendo mutados para “Verme e Donato”. Mas que poderia fazer os papéis? Eu não queria me separar daquela máquina mágica nenhum segundo. Claro, a solução veio rápido. Para o papel principal, teria que escalar o Giba, ele era o cara certo pra isso, não podia ser diferente. Bastava eu dar uma idéia que ele se encarregava de acrescentar humor e mais idéias às cenas. O “Donato” ficou atribuído ao Erick, que com certeza faria as pessoas rirem mais com suas caretas do que qualquer um lá. O Diego, na época “Abima”, tinha o perfil ideal para ser um coadjuvante, que se faria de curioso, ou “papagaio de pirata”. Pode parecer que esse não era um bom papel, mas ninguém faria tão bem quanto ele. A criatividade fluía entre nós, com eu e o Giba no controle da maioria das idéias, a coisa só podia ser pesada. Fizemos desde reportagens policiais até mágicas e truques ilusórios. E olha que tinha sido a primeira vez que eu pegara numa filmadora! Só sei que ouvimos comentários e elogios de muitas pessoas. Tinha gente que foi assistir a fita para conferir a festa, e também para ver como foi sua própria participação na comemoração, e acabou se deparando com um bando de garotos burlando todas as pessoas e sabotando o objetivo principal, que era o aniversário do Jorge. Ficamos muito conhecidos, pelo menos pelas pessoas que foram à festa. Dali por diante não paramos mais, fizemos de tudo, filmes, clipes, shows e pra variar, fitas de família. Passados mais anos adiante, continuamos muito unidos e temos uma sintonia que não acaba. Não tem como contar todas as historias aqui, mas da pra contar as que eu lembro agora.

Não tem como deixar de citar o Kaio, primo-irmão que era o levado da breka. Mas na verdade tem um coração grande, generoso e corajoso. O meu irmão Gleidson, que vai levar adiante tudo o que ele aprendeu com esse malucos. Na verdade ele fez parte de grande parte dessas historias. Afinal, quem você acha que era o baterista de nossos shows? O próprio, sempre com cara de cansado mas lutando. A Daniela e a Jully, que não eram vistas por vocês mas estavam sempre dando cobertura e filmando esses caras sem limites. Alias, diga-se de passagem, se você já viu uma banda de rock de verdade no palco, não vai discordar que aqueles caras tocando instrumentos de papelão e cantando em cabos de vassoura eram verdadeiros rockstars!! Eles deram o sangue de verdade, não estavam fingindo. Tente comparar o guitarrista Diego Frusciante com o John de Souza, você não vai saber quem é melhor entre eles. Aqueles solos de guitarra eram injetados diretamente nas veias, e daí dava aquele resultado que vocês puderam ver.

Hoje apesar de mais calmos e distantes por causa da vida, não nos separamos, e esse blog é uma prova disso.

Sempre damos um jeito de nos vermos e arruaçarmos. O Giba e eu, com nossas teorias sobre a vida e suas ramificações, estamos chegando num nível cada vez mais alto do conhecimento humano, tentando entender nós mesmos. O Diego mudou radicalmente seu estilo de vida e hoje é muito mais independente, morando sozinho por varias vezes e pilotando uma magrela motorizada que já é sua nova marca registrada. O Erick sabe o que é diversão, sempre arruaçando por ai e mantendo uma imagem que já lhe era propícia. O Kaio Roots, como diz o novo sobrenome, foi buscar suas ideologias na raiz. O Gleidson, está em profunda evolução, já conseguiu até uma loira, daqui a uns dias ele cola de Opala preto rebaixado trazendo o novo álbum dos Racionais Mc’s. E a mais nova semente já germinou, o Henrique marimbondo, meu amado filho.

Aonde nós iremos, eu ainda não sei, mas temos uma longa estrada pela frente.

Dedicado à todas as pessoas amadas, principalmente para quem não foi citado nesse texto.

Deus abençoe minha família! Amém!

1 comment:

Gilliard Bastos dos Santos said...

Tudo se resume em um adjetivo visto nas ruas,um adjetivo usado por skaterrockstar o adjetivo de texto muito "FUDIDO" isso visto de forma positiva é claro...me fez voltar no tempo,um fio de lembraça escorregou da minha mente.